Arraial D'Ajuda Bahia
A charmosa Arraial D'Ajuda é a Shangri-lá da Bahia.
Reduto de intelectuais e artistas, esse pequeno vilarejo cresceu para
atender à demanda de turistas mais exigentes, aqueles que não se
contentam apenas com axé music
Uma vila de pescadores com belas praias, protegida pela
posição geográfica privilegiada e que abriga artistas e intelectuais
brasileiros e estrangeiros. Na região de Porto Seguro, há um fenômeno
que se assemelha à história de um município fluminense. A
transformação de Búzios se repete em Arraial. Assim como ocorreu com o
ex-distrito de Cabo Frio, a comunidade de Arraial estuda a emancipação
do vilarejo, que tem diferentes necessidades estruturais da cidade que a
administra - a Porto Seguro do turismo de massa.
As semelhanças com Búzios prosseguem quando se
caminha pela Estrada de Mucugê, onde a arquitetura e a disposição de
restaurantes, lojas e da galeria Beco das Cores são quase réplicas da
Rua das Pedras da cidade fluminense. E tem também os estrangeiros:
argentinos, chilenos, franceses, alemães, suíços - um grupo
heterogêneo que se estabeleceu na Shangri-lá baiana. "São
fenômenos que se repetem como em outras partes do mundo. Ocorre o mesmo
em Bali, Goa, Mikonos", diz o francês Jean-Louis, dono do
Restaurante L'Hermitage e um dos integrantes da "irmandade"
estrangeira.
Hoje, Arraial não é apenas o refúgio de uma
sociedade intelectual à procura de uma vida inspiradora. O pequeno
paraíso cresceu para o turismo mais exigente e oferece cerca de 120
pousadas - ou cerca de 4 mil leitos. Aliás, o conceito de
"pousada" no vilarejo baiano está longe de representar uma
cabana suja, com cama dura e cheia de mosquitos. Várias delas seguem o
padrão de hotéis de qualidade, oferecendo até camas king size, tevê
por assinatura, frigobar e ar-condicionado. A diferença está no
atendimento, na maioria das vezes informal, em que o proprietário serve
as refeições e resolve pessoalmente eventuais problemas.
"O turista tem de ficar à vontade. Por isso, há
tratamento familiar", afirma Paulo Ernesto, ex-superintendente da
Sanyo do Brasil. Ele largou a vida de executivo e construiu a Pousada
Manacá em um dos planaltos mais cobiçados para apreciação panorâmica
do litoral de Arraial. Quem prefere dormir ao som do quebrar de ondas pode
se hospedar na Pousada Pitinga, que, além de ficar na melhor praia de
Arraial, é feita em estrutura de concreto com telhados de piaçava. Como
não poderia deixar de ser, faz parte da seleta lista dos Roteiros de
Charme. A proprietária, Maria Sílvia de Bulhões, mostra com orgulho as
peças de decoração, feitas por artistas locais.
Se o assunto é gastronomia, restaurantes, aliás, não
faltam em Arraial e a qualidade não deixa saudades dos renomados
estabelecimentos das metrópoles. Lá, oferece-se desde o bom peixe da
região até o melhor da cozinha internacional. Na Praia de Pitinga, o
Maré serve o guaiúba - peixe também conhecido por lá como cioba -
assado na telha a R$ 19,80 (para duas pessoas), temperado com azeite,
shoyu e ervas e servido com arroz, farofa e salada.
O fortalecimento de Arraial D'Ajuda como destino
turístico na última década criou uma certa rivalidade com Porto Seguro.
Um dos fatores que beneficiam o vilarejo são as melhores praias da Costa
do Descobrimento, como Pitinga, Mucugê, Araçaípe, Parracho, Lagoa Azul
e Rio da Barra, entre outras.
Muito mais que o Rio Buranhém, a música é o maior
divisor de águas entre Arraial D'Ajuda e Porto Seguro. Enquanto o axé
music toma os ouvidos dos turistas dia e noite na cidade, o vilarejo
tornou-se um refúgio pela miscelânea musical. Os donos de bares brindam
os clientes com jazz, blues e até música clássica. As famosas festas e
luaus noturnos que se revezam nos points Buraco Loco, Parracho e Gringo
Louco misturam os estilos techno, reggae, rock, MPB e axé. Na Bróduei
(é assim mesmo que eles escrevem), pequeno quarteirão histórico perto
da Igreja de Nossa Senhora D'Arraial, o comércio turístico mudou a cara
do local, mas é possível tomar um trago no Duerê ou no Gerais ao som de
uma jam de músicos descompromissados. Portanto, não estranhe ao se
deparar com um artista tocando violino, acompanhado de outro com atabaque.
No Arraial é assim.
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